Control C - Control V - E a ética onde fica?

Control C - Control V - E a ética onde fica?<

Por: Danton Velloso
Fundador na DVCA e DOOR International Brasil
 
Eram 3 horas da manhã quando recebo um “lead” pela área de atendimento do site de minha empresa.
 
Ele descrevia a necessidade de um potencial cliente para dar atenção a um problema específico exigindo que encaminhássemos uma proposta ASAP para resolvê-lo. Parecia, realmente, ser urgente, pelo tom que trazia consigo pois colocava à disposição número de celular / WhatsApp para contato com a seguinte chamada: “Para qualquer informação adicional, estou à disposição para atendê-lo se precisar”.
 
Achei interessante essa predisposição, mas normal também, levando em consideração que estamos na Era Digital onde tempo e espaço ocupam o mesmo lugar.
 
No mesmo instante, adicionei a pessoa em meu aplicativo e mandei pra ela um sinal de que havia recebido sua solicitação e que, para atendê-la melhor, necessitaria sim de algumas informações adicionais. Para tanto, pedi que me informasse o horário de sua conveniência, para que pudéssemos falar a respeito. No minuto seguinte veio a resposta: ”Puxa, não pensei que tivesse alguém acordado a essa hora para falar comigo mas, se puder, poderia ser agora?” “Claro”, respondi.
 
Não vou aqui transcrever o diálogo que teve início. Muita coisa foi dita em função das perguntas feitas por mim e as respostas dadas pelo potencial cliente. Foi uma conversa que terminou duas horas depois com a solicitação final: ”Você poderia me encaminhar essa proposta até as 08 horas? Tenho uma reunião com o meu diretor às 09 horas que está me pressionando por uma solução.”
 
Como não era nada complexo, disse a ele que ficasse tranquilo que as 08 horas estaria em seu e-mail e, assim, foi feito.
 
Passados dois dias e não recebendo nenhuma resposta, liguei para o cliente para saber o “status” da situação. Ele me disse que o diretor havia gostado muito da proposta e que solicitou que fosse aberta uma licitação envolvendo, no mínimo 3 empresas, tendo em vista o “compliance” da companhia e que estava preparando o caderno de encargos para ser enviado para todos os potenciais concorrentes.
 
Até aí, nada a considerar pois é, exatamente, assim que o mercado se comporta no meu segmento.
 
Recebi o caderno de encargos e aí, apareceu o primeiro “control c / control v”!
 
Tirando todos os regulamentos e procedimentos de praxe, no item objeto deste documento, havia a minha proposta transcrita na íntegra, inclusive com a falha de digitação cometida pela pressa quando a elaborei para poder encaminhar a um cliente desesperado por recebê-la até as 08 horas da manhã. Aquilo me chamou a atenção pois apontava duas possibilidades: a primeira era que, por questão de “compliance” havia a necessidade de se abrir um “BID” mas a proposta a ser escolhida seria a minha pelo caráter da situação já que ela estava transcrita no corpo daquele documento; e a outra possibilidade….. dá pra imaginar não dá?
 
De qualquer forma, apostei na primeira cumprindo as formalidades exigidas, encaminhei e aguardei, aguardei, aguardei e me frustrei. Não veio nenhuma resposta. Pensei comigo: “Caramba, será que perdi a aposta? Devia ter apostado na segunda possibilidade?
 
Resolvi então retomar o e-mail de origem e percebi que dele constavam os nomes das consultorias envolvidas e, com as quais mantenho relacionamento. Por desencargo de consciência, liguei para cada uma delas falando com o responsável sobre o assunto e, todos foram unânimes em dizer que não tinham recebido nenhum retorno das propostas que enviaram.
 
Como já haviam passados 2 meses daquela madrugada que deu origem a isso tudo, liguei para o cliente desesperado perguntando como o assunto estava caminhando e, se precisava de algo que pudesse ajudar. Ele me disse que, em função da situação econômica pela qual atravessamos, a empresa resolveu rever o seu “budget” e que todos os novos projetos estariam de “stand by”. “Assim que tiver novidades, entro em contato com você”, finalizou o cliente.
 
Tudo bem, achei adequada a resposta tendo em vista a “bagaça econômica” que nos encontramos.
 
Mas, como cito em meu livro - Padrão Beat em 5 Minutos - A Excelência ao Alcance de Todos, esse mundo e Beat e dá muitas voltas!
 
O diretor de marketing dessa empresa, ao final de uma palestra onde eu acabara de realizar, achando interessante o que havia exposto, me convidou para um encontro em sua empresa para discutir, mais a fundo, como os conceitos que foram apresentados na palestra poderiam ser aplicados em sua organização. Marcamos o encontro.
 
Quando cheguei, fui muito bem recebido por ele e seus pares que me aguardavam ansiosos para darmos início a nossa conversa. Ao final das minhas considerações e tendo respondido todas as questões que foram colocadas pelos presentes, o diretor anfitrião pediu que o seu “Champion” viesse até a sala e trouxesse seus apontamentos sobre o projeto que estava realizando com sucesso mas que, ainda a seu ver, necessitava ajustes.
 
Qual foi a minha surpresa? Conheci o cliente desesperado. Percebi nele certo incômodo pois o que ele levava como evidências no seu PPT era, exatamente, a proposta que naquela madrugada, discutiu comigo. Este foi o segundo “control c / control v”!
 
Controlei meus impulsos com um sorriso amarelo que somente eu e ele sabíamos do que se tratava. Os outros à mesa, enchiam-se de orgulho daquele profissional que liderava um projeto que vinha proporcionando uma série de benefícios para aquela empresa, mas que unânimes com o diretor de marketing, tinham a convicção de que necessitava de alguns ajustes para que os resultados-chave esperados, fossem obtidos na sua totalidade.
 
O desfecho dessa história, fica pra depois!
 
O importante disso tudo é a reflexão que fica sobre o “control c / control v”.
 
Não é coisa de agora, mas começou a ser facilitado, lá traz, nos idos dos anos 70. Desde então, vem perpetuando o surgimento de proprietários ilegais de idéias que não lhes pertencem e o quanto isso vem prejudicando aqueles que, depois de acordarem por terem tido um “insight na madrugada e buscando empreende-lo, podem se deparar com profissionais / empresas desse tipo que se aproveitam, na calada da noite, do gesto solitário da criação cuja proposta de vida é levar a paz e a felicidade para aqueles que precisam de soluções para enfrentarem, de forma mais branda, os desafios dos seus dia a dias.
 
De qualquer forma, essa falta de ética leva a três caminhos que, mesmo tendo impulsores distintos, são resultantes do “control c / control v”! São eles:
 
Aqueles que, pela desculpa da falta de “budget”, ousam a trilhar pela apropriação indevida;
Aqueles que trilham por essas paradas por prazer de viverem no auto-engano; e,
Aqueles que fazem trilhas pelo prazer de “chupar a idéia” e adotá-la como sendo suas, sem se importarem pelo fato de tirarem o leitinho das crianças daquele que as gerou.
Os profissionais e empresas que agem assim não percebem que o “control c / control v” é limitado pois, se traz o quê, não traz o como e se traz o como, não traz o quê e, mesmo que os trouxessem, não permitem a apropriação da visão daqueles que os geraram. Eles sempre precisarão de um toque mágico e este, não está ao alcance do “control c / control v”.
 
Hoje, olhando ao meu redor, me deparo com inúmeras iniciativas que tive ao longo de todo um tempo empreendendo e que foram sujeitas de um “control c / control v”. Rodam por ai no mercado com um ar suposto de diferentes, levadas a cabo por aqueles que saíram de dentro de minha casa ou, com ar de amigos, se apropriaram indevidamente delas.
 
Convido a todos a usarem o “control c / control v” com moderação e somente para simples cópias de arquivos pessoais e, mesmo assim, não se esquecerem de citar a fonte.

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