Se você está pensando que pelo título desse artigo, eu vou falar sobre o pretérito mais-que-perfeito do indicativo - tempo verbal empregado para indicar uma ação passada que ocorreu antes de outra, também no passado, está totalmente equivocado.
Desculpe-me, mas acho que não vou traçar o caminho da sua expectativa. Fique a vontade para parar por aqui. Não quero frustrá-lo!
Vou me referir aquelas pessoas que se julgam estar acima do Olimpo pois, mesmo no Olimpo, encontrarão defeitos. Aquelas pessoas que fazem parte de uma espécie onde o erro parece não existir ou sejam, não erram nunca, tomam-se como normais dentre os anormais que somos nós e que se alimentam nós.
Acho que você já se deparou com esse tipo de pessoa, se já não conviva com uma delas ao seu lado.
Pois bem, essas pessoas possuem uma eloqüência que, diante de termos como inexplicável; como você pôde fazer isso; não lhe disse que falasse comigo antes; pense bem antes de fazer; não erre e, por aí vai, tolhem a espontaneidade do outro pela imposição da falácia do impossível realizar sem ter me ouvido.
Passam a maior parte do seu tempo em estado de alerta buscando se apresentar como abertas e se fazendo transparentes ao convívio social imaginando que o seu disfarce seja, suficientemente, forte para não deixar transparecer nenhum sinal de fraqueza para aquele com quem se relaciona. Encontramos essas espécimes em todos os meios da atividade humana, desde a política às empresas, do grupo social à família, da religião aos dogmas, etc.
Partem do pressuposto que o erro é ato deliberado e não como consequência da falta de conhecimento, atenção, pressão, doença - apenas alguns exemplos para não exagerar nas potenciais causas.
Sendo assim, vão minando o prazer do convívio com o outro até o momento em que se encontrarão a sós.
No auge de sua vitalidade mostram-se avessas ao mais que imperfeito sem se darem conta que ao longo do curso da vida irão se deparar com essa realidade em si.
Uma pesquisa realizada pela Universidade de Harvard que teve seu início na década de 30 do século passado e ainda em curso, vem acompanhando o desenvolvimento de jovens da época passando pela meia idade até a maturidade (*) - hoje com 80/ 90 anos avaliando, regularmente, sua condição física, psicológica, cognitiva, social, familiar espiritual e através de entrevistas de qualidade de vida.
(*) estado, condição (de estrutura, forma, função ou organismo) num estágio adulto; condição de plenitude em arte, saber ou habilidade adquirida.
Essa pesquisa envolveu inicialmente, como corpo experimental, dois tipos de grupos: aquele composto por jovens que entraram em Harvard os quais faziam parte da elite da época e aquele por jovens da periferia de Boston, estes mais marginalizados socialmente se comparados com os do primeiro grupo.
Em ambos, identificou-se pessoas que contam hoje com 80 / 90 anos. Os cientistas foram atrás das evidências que justificariam tal longevidade tendo em vista as diferenças existentes entre aqueles que não chegaram a tanto.
Recorreram as informações contidas nos prontuários dessas pessoas quando na média idade - 30/ 40 / 50 anos - para identificar os motivos. Analisaram todos os dados tendo em vista as dimensões avaliadas ao longo do tempo e chegaram ao prognóstico de terem uma vida de sucesso aos 80 / 90 anos.
A conclusão foi que o real motivo não estava para o controle do nível de colesterol e tão pouco o controle da diurese, da hipertensão, da diabete, de antecedentes de câncer na família, etc. a que estas pessoas se submetiam.
A única coisa que justificou a diferença na história de sucesso dessas pessoas foi a qualidade das relações humanas que elas estabeleceram quando nos 30/ 40 e 50 anos.
Diante disso eu pergunto: Como uma pessoa de média idade que não aceita erros em si e nos outros, que vive uma ilusão julgando a todos com quem estabelece relações, que se faz de insensível e que, em virtude de suas atitudes rígidas e preconceituosas experimenta o isolamento precoce pode chegar tão longe e dizendo que valeu a pena?
Impossível! Valer a pena implica em valorizar a vida e dela faz parte o erro. Que seja bem vindo o erro. Professor mais significativo para o desenvolvimento quando se tem consciência dele.
Ele nos mostra que o mais que perfeito caminha para o mais que imperfeito. Estado de consciência de quem atinge a maturidade para saber de que nada sabia.
Você já deve ter olhado para uma pessoa e ver as rugas em sua face.
Pois tenho algo a lhes dizer: Para cada ruga existiu um contato com um mais que perfeito. Mas para duas ou mais, ela foi o mais que perfeito.
Desafio você a se olhar no espelho. Você jovem que não as tem, leve a vida com a humildade do aprendizado contínuo sem medo de ser feliz. Aceite a vida como ela é e faça a sua parte.
Para você mais velho fica a pergunta: Quantas rugas você tem?
COMENTÁRIOS